1- Seletividade Alimentar Infantil
Dificuldades alimentares como a Seletividade podem se apresentar desde casos mais leves, chamados comumente de "Picky Eaters", até os mais severos encontrados em alguns casos de autismo. Variam desde os que não representam riscos para a saúde, aos mais graves, que levam à hospitalização.
A Seletividade alimentar pode ser confundida com a Neofobia (resistência em comer e/ou experimentar “novos” alimentos) quando a queixa aparece entre 18 a 24 meses.
A Extrema Seletividade é considerada, por alguns autores, como uma Desordem Alimentar, cujo quadro pode apresentar um consumo entre 10 a 15 alimentos. Alguns autores referem essas crianças como Aversivas Sensoriais, as quais recusam categorias inteiras de alimentos relacionadas a sabor, texturas, cheiros, temperatura e/ou aparência.


A Seletividade Alimentar pode ser referida como recusa, repertório limitado de alimentos, ou alta frequência na ingestão de único alimento. Não há consenso quanto à classificação da seletividade alimentar.
Algumas recentes revisões acerca das classificações do DSM-5, concluíram que as desordens alimentares da infância incluiriam 3 fundamentais comportamentos alimentares: criança que come pouco, criança que come um número restrito de alimentos ou que possuem medo para comer.

Alguns autores consideram que os problemas de alimentação, deveriam também ser observados como uma consequência das desordens na relação entre criança e cuidador, e do estilo de interação frequente durante o momento da refeição.


Muito embora a seletividade alimentar seja geralmente o quadro mais prevalente, de acordo com alguns estudos publicados, os casos mais severos representam uma pequena porção de uma pirâmide e podem incluir todos os quadros apresentados.
2- Seletividade Alimentar em Crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista)
Você pode estar lidando com uma criança com Seletividade Alimentar.
Autistas com problemas alimentares podem ser um exemplo de Extrema Seletividade, muito embora seja verificado, com frequência, quadros mais leves de seletividade em casos de TEA.
Dos problemas encontrados no TEA, os alimentares tem importante relevância, pois quando mal administrados ou não tratados, se tornam crônicos e persistentes.
Crianças diagnosticadas com TEA, apresentam maior incidência de recusa alimentar e também apresentam mais problemas no momento da refeição, incluindo dificuldade em permanecer sentados à mesa e não comer com a família.
Os problemas alimentares no TEA podem ir além do número de alimentos aceitos, podem incluir problemas com uso de utensílios, inflexibilidade na apresentação dos alimentos, fixação em marcas, embalagens e formas.
As dificuldades sensoriais com o sabor, textura e cheiros dos alimentos, bem como as alterações de motricidade oral são bastante prevalentes nesses quadros.


O padrão comportamental do TEA influencia negativamente o aspecto alimentar, principalmente no que diz respeito à seletividade alimentar, inclusão de novos alimentos e o compartilhamento das refeições com a própria família.
Devida atenção deve ser dada aos problemas gastrointestinais comuns em crianças com TEA, os quais podem interferir tanto na patogênese como no prognóstico dos casos. Eles podem interferir no funcionamento do indivíduo e na sua qualidade de vida e serem confundidos com as alterações comportamentais do TEA.
Os medicamentos utilizados para o tratamento das alterações comportamentais podem afetar tanto o padrão de alimentação dessas crianças, quanto as alterações gastrointestinais.
3- Distúrbio Alimentar Pediátrico (DAP)
Agora temos um diagnóstico!
O que há de novo segundo o último consenso de 2019:
É proposto um termo diagnóstico unificador, “Distúrbio Alimentar Pediátrico”, usando a estrutura da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde.
Este termo unifica as preocupações médicas, nutricionais, de habilidade de alimentação e psicossociais associadas aos problemas alimentares.
O uso de uma terminologia comum e precisa, é necessária para o avanço da prática clínica, da pesquisa e das políticas de saúde.


O Distúrbio Alimentar Pediátrico é definido então como toda ingestão oral prejudicada que não é apropriada para a idade e está associada a disfunção médica, nutricional, de habilidades de alimentação e/ou psicossocial .
Considerando que a alimentação é um processo complexo que requer interação de vários sistemas como nervoso central e periférico, mecanismo orofaríngeo, sistema cardiopulmonar e trato gastrointestinal, entre outros, requer aquisição e domínio de habilidades apropriadas para o desenvolvimento e a idade da criança, além de ocorrer no contexto da díade cuidador-criança, o desenvolvimento e persistência dos distúrbios alimentares pediátricos dependem da relação e funcionalidade de todos esses sistemas.
Essa nomenclatura enfatiza a compreensão holística do quadro, favorecendo a detecção precoce e o diagnóstico. Uma visão unilateral, com cada disciplina sugerindo sua própria abordagem, não capta a complexidade dos distúrbios alimentares pediátricos.
Com isso o acompanhamento dos Distúrbios Alimentares Pediátricos
necessitam do envolvimento de várias disciplinas e uma abordagem de equipe.
Goday, Praveen S., et al. "Pediatric feeding disorder: consensus definition and conceptual framework." Journal of pediatric gastroenterology and nutrition 68.1 (2019): 124